A ADMINISTRAÇÃO E OS SETE PECADOS CAPITAIS
“ A empresa não vive se não convive “
( Roberto de Mello e Souza )
Inspirado por artigo de Carolina Mandl, há anos atrás, sob o título “Evite os sete pecados capitais do investidor”, atrevi-me na pretensão de estabelecer esse mesmo paralelo com a administração e os administradores brasileiros.
De início, entretanto, devo esclarecer que, administrar é administrar gente. Ninguém administra arruelas, parafusos, agência bancária, hospital, supermercado, fábrica, etc. Nós administramos as pessoas que trabalham nessas atividades. A administração se faz orientando pessoas.
Outra preliminar necessária é ressaltar a extraordinária capacidade empreendedora da administração e do administrador brasileiros, sua inegável qualificação técnica, sua engenhosidade, seu arrojo, seu invejável talento para adaptação, improvisação e reação a conjunturas desfavoráveis – vide “apagão de 2001 “- .
Ao lado disto, todavia, a experiência e aqueles que estudam com seriedade o comportamento e a ação do administrador patrício vêem-no, muitas vezes, cometendo um ou mais desses sete pecados capitais:
GULA – o administrador brasileiro tem pressa , quer resultados no curto
prazo, imediatos. Daí o planejamento, quando existente, do prato à
boca ou mal feito ou não feito de todo. O resultado quase sempre é o infarto, a falência.
IRA – em razão desse planejamento míope , muitas vezes decidido e
elaborado pessoalmente e nunca revelado aos demais integrantes da
empresa , o administrador patrício se irrita quando as coisas começam a dar errado; daí passa a caça às bruxas: os empregados são vagabundos, a gerência é inepta, o governo atrapalha, o sindicato só faz bagunça, etc. É o fenômeno conhecido por transferência: o culpado é sempre o outro, quando as coisas dão errado.
ORGULHO – não sabe dizer “ não sei ” ; não sabe ou não quer ou não gosta de
perguntar “ o que você acha? ”. Quando questionado em algo que
não sabe, desconversa, enrola, diz que o assunto é confidencial, etc. provocando ainda mais desânimo e desconfiança da equipe. Acha que treinamento é para os outros. Ele já sabe tudo e não pode perder tempo com bobagens.
INVEJA– tudo que algum colega de sucesso tenha feito ele acha que deve
fazer também. Gosta dos modismos , especialmente se vier do
estrangeiro; quanto “ mais estrangeiro “ , melhor. Foi a todas as palestras de um desses gurus americanos e o máximo que consegue articular é: “ pôxa , como ele tá velho ! ”
PREGUIÇA– o administrador patrício , em regra , não pesquisa e , a bem da
verdade, o Brasil não dispõe de pesquisas sérias, científicas no campo
da administração. Daí resulta apostar nos “pacotes” importados. Em viagem pelo exterior, encanta-se, freqüente e ingenuamente , com algum “enlatado” e entrouxa-o goela abaixo do trabalhador tupiniquim, sem critério algum, muitas vezes violentando nossa cultura e nossos valores, deformando e inibindo nossas incipientes experiências no campo das relações de trabalho. Não lê; não passa, nem de longe, pela literatura sobre comportamento humano, de competências de relações interpessoais. Ora, se a administração se faz orientando pessoas e eu não entendo de pessoas, como posso orientá-las adequadamente?
AVAREZA– não investe , pelo menos não o suficiente , em desenvolvimento
humano. Contenta-se com “modernidade”. Ao sinal de qualquer crise,
o corte é sempre, em primeiro lugar, na área social: demissão de pessoal, treinamento, salários, benefícios, etc. Esquece ou nunca soube que empresa é um sistema social, criada por gente, desenvolvida por gente e para sempre modificada por gente.
LUXÚRIA– esbanja em modismos , patrocinando gurus internacionais , achando
ingenuamente que a solução dos problemas está fora da empresa,
especialmente no exterior. Não se trata de xenofobia, mas a experiência tem indicado que a empresa, especialmente a empresa moderna tem, nos seus quadros internos, todas as condições, vou repetir, todas as condições para resolver qualquer problema que a perturbe. A administração basta a si mesma. É preciso, apenas, saber usá-la.
Ademar G. Feiteiro